sábado, 25 de fevereiro de 2012

NO LUGAR ADEQUADO PREPAREM A PÁSCOA! (Mc 14,15)



Nossos espaços litúrgicos nos ajudarão a celebrar bem a Quaresma este ano?

E vem chegando a Quaresma! O Ano Litúrgico caminha para o seu auge: a celebração do Santo Tríduo da paixão, morte e ressurreição do Senhor[1]. E com ela chega o forte apelo para refazermos a caminhada batismal, que nos conduziu um dia às fontes eternas da vida plena, onde não há injustiça nem desigualdades e que nos aproximam através dos santos mistérios, do coração do nosso Deus. E chegaremos à Páscoa, que não é outra coisa senão a atualização concreta daquilo que celebramos, vencendo a morte com a vida, mudando-nos em verdadeiros símbolos do Cristo. 
Quaresma é tempo de mudança de mentalidade e comportamento! Somos então convidados a rever toda a nossa vida à luz do evangelho, que nos provoca, especialmente na liturgia da palavra deste tempo. É tempo também de acolher e cooperar com a caminhada dos catecúmenos, durante os domingos da Quaresma e com eles ver a graça de Deus se descortinando até a Vigília Pascal, onde rebrilha para todo o universo o esplendor do Cristo ressuscitado. Não esquecendo é claro, que também é tempo de preparar as celebrações pascais, com o zelo que elas merecem, valoroso serviço mútuo e um alegre desejo espiritual pela Santa Páscoa[2].
Diante de tudo isso aparece inúmeras preocupações, entre elas, a de como estamos preparando nossos espaços litúrgicos para este período quaresmal. Em tempos de forte corrida para alcançar as altas tecnologias, além de uma busca incessante pelo lucro e pelo luxo, parece às vezes, que esta onda de um pseudo “viver bem”, chegou também em nossos espaços eclesiais. Será que ao contrário do que propõe esta mentalidade consumista e materialista, podemos fazer deles, lugares mistagogicamente bem preparados, funcionais e despojados, a fim de podermos celebrar o Ciclo Pascal este ano?
Sob a desculpa de um conforto que ajude às pessoas a rezar melhor, requintamos nossas igrejas e ficamos muitas vezes indiferentes aos sofrimentos e “desconfortos” de muitos irmãos e irmãs, que vivem sem o mínimo de bem estar. Com certeza o Cristo quer nos converter disso também.
Bem sabemos que o primeiro espaço a ser cuidado, o espaço por excelência, são as pessoas. Quando os cristãos ainda não possuíam locais para as suas celebrações, mas celebravam nas casas, os santos padres faziam questão de lembrar aos fiéis que o templo não são os muros, mas as pessoas. Nos primeiros séculos do cristianismo, as casas onde os cristãos se reuniam se chamavam “domus eclesiae”, a casa da Igreja.[3]
Hoje, revisitando o respeitável depósito espiritual contido na quinquagenária Constituição Sacrossanctum Concilium, precisamos dar mais importância ao espaço onde as celebrações acontecem, fortalecer a luta por uma reforma litúrgica, que privilegie verdadeiramente a participação de todos na ação sagrada, de maneira consciente, piedosa e ativa, por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações[4], para que todos sintam a liturgia como verdadeiro encontro com o Deus da vida.
Para tanto carecemos somente do essencial: que seja aconchegante, limpo, ventilado, bem iluminado, acolhedor e que possua o necessário para se celebrar bem, para que alimentem a fé e a piedade e correspondam ao seu verdadeiro significado e ao fim a que se destinam.[5] No século VI, São Bento já escrevia na sua Regra dos mosteiros, que o oratório seja o que o seu nome indica, e não se faça ou guarde ali nenhuma outra coisa[6].
Avaliadas nossas atitudes diante destas questões, somos impulsionados a revermos nossa maneira de preparar os espaços que usamos para celebrar. Quanto a isto, sigamos como recomendações aquilo que a Instrução Geral do Missal Romano nos diz a respeito da Disposição e Ornamentação das Igrejas para a Celebração da Eucaristia nos números 288 a 318 (alargando é claro o nosso horizonte para tantas outras celebrações realizadas em nossas comunidades). Especificamente a respeito da Quaresma temos o seguinte na IGMR, nº 305: “No tempo da Quaresma não se colocam flores no altar, exceto, porém, no domingo Laetare – IV da Quaresma, solenidades e festas, e no Cerimonial dos Bispos nº 252 temos: “...o som dos instrumentos é permitido só para sustentar o canto”. Claro que conhecendo a liturgia, sua dimensão simbólica e as normas da organização de um bom espaço litúrgico, cuidaremos melhor do lugar onde celebraremos a Quaresma e a Páscoa. 
Por fim, se o apelo à mudança de vida pessoal e comunitária, a busca mais acentuada à prática da oração, do jejum e da partilha dos bens, soarem forte aos nossos ouvidos nesta Quaresma, não teremos outro comportamento diante da comunidade e da sociedade, a não ser o de dar testemunho do evangelho. Desse modo, faremos de nossos espaços celebrativos, símbolos proféticos de simplicidade e despojamento, de partilha e fraternidade, de silêncio e de respeito a Deus e ao ser humano, auxiliando na construção de uma sociedade nova, onde beleza nunca será sinônimo de ostentação. Oxalá entendamos isto verdadeiramente!










Seguem algumas dicas para ajudar nas questões práticas:

- fazer uma boa faxina antes da Quaresma, tirando aquilo que não estamos usando, ou que não será necessário pelo menos neste período,
- se temos mais cadeiras que pessoas para sentar nelas, recolher e guardar as que sobram ajudam a formar melhor a congregação, a assembléia que se reúne assiduamente para celebrar,
- destacar a cruz, mas não usá-la como cabide para pendurarmos cartazes, fotos, rosários e outros,
- cuidar da alfaias, elas podem, se usadas na dosagem certa, conduzir a gente ao Mistério sem precisar ser exageradas,
- usar a cor roxa com sobriedade, indicando assim o tempo que estamos vivendo,
- o cartaz da campanha da fraternidade, não necessariamente precisa estar próximo ao ambão ou ao altar, pode ficar junto à porta de entrada por exemplo, ou num quadro que chame atenção dos que chegam,
- enfim, fazer com que o espaço se torne acolhedor e estimule à oração, à ação de graças e a verdadeira mística litúrgica.






Marcelo Gomes de Barros
Membro do Núcleo da Celebra – Santa Rita - PB


[1] Normas universais sobre o Ano Litúrgico e calendário - NALC, nº 18.
[2] Regra de São Bento, capítulo 49, “Da observância da Quaresma”.
[3] Guia litúrgico pastoral da CNBB – capítulo IX sobre o Espaço Celebrativo, pag 101.
[4] SC nº 48
[5] IGMR, nº 289§ 2º
[6] Regra de São Bento, capítulo 52, “Do oratório do mosteiro”.

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